Pular para o conteúdo principal

Antonio Aruanda fala sobre "Xará", novo álbum de Paquito

Estou a curtir o maravilhoso álbum “Xará – Short Songs” (2019) do meu querido Paquito, baiano do mundo todo.

Álbum Xará - Foto: Divulgação

Meu falar e meu escrever são ostensivamente emocionais, porque me mostro no que sinto, no que vivencio artística, existencial e culturalmente, e como isso reverbera em minha alma-poesia. 

O álbum é todo bom de se ouvir(sentir) porque me conduz a possibilidades e dimensões infindas. Queria dissertar sobre todas as 20 músicas, mas vou me ater às que mexeram mais comigo. 

O que curto na poética de Paquito, que atende pelo nome civil de Antônio José Moura Ferreira, é que ele consegue ser doce até nos versos mais ácidos. O trecho deliciosamente iconoclasta e suplicante da composição “Xará”, na qual ele homenageia Antônio, nosso santo, é divino:

“Desça desse velho altar/E desfaça seu mal-feito/ Eu ando por aí a rodar/Só porque fui seguir seu preceito/Me socorra meu santo e xará/Eu carrego seu nome em meu peito”

Amo o romantismo gostoso de “Igual a Você”. A paixão é tanta que o eu-poético amante brinca de Deus e diz que vai clonar o ser amado se ele o deixar:

“Se você me deixar/vou criar outro ser/cheio de amor pra dar/igualzinho a você.” 

E o que dizer da apetitosa “Eu quero ser fruta”? Tão mágica na temática da infinitude do ciclo da vida:

“Quando eu morrer quero ficar aqui na terra/ que em se plantando tudo dá e se desfruta/ enterradinho nu em pêlo e o que interessa/ se é pra morrer e renascer, quero ser fruta/ eu quero ser fruta/poderosa necessária absoluta”.

“Barulhento”, meu xará canta com Caetano. Eu a considero uma Ode ao Silêncio:

“Chuva e sol de shopping center/onde a gente vai e vem/decibéis indiferentes/ao coração de ninguém/silêncio (...) vai ninar meu bem.”

Já “Porto de Chegar”, na qual faz uma linda parceria com Geronimo Santana, e cantam o Porto da Barra, me remete aos orgásticos veraneios que passei na Praia de Tairú, Ilha de Itaparica. Letra e música aquáticas e litorâneas:

“Um amor me trouxe aqui/ e a paixão me fez cantar/ nesse fim de tarde ainda/ vou nadar com Janaína/a dona rainha do mar.”

“O monstro” é soco no estômago. Soube que fez com Chico César em 2016 e refere-se nada mais, nada menos a #elenão:

“Bandido bom é bandido morto/ Jesus moído até o osso/ o monstro habita o esgoto/qualquer de nós, uns e outros/ exceto a virgem Maria.”

Criatura, se quiser viver e sentir essa beleza traduzida em música e poesia, de nada vale ficar com as impressões da minha verborreia à flor da pele. Vá lá no Spotify, permita-se surfar nessa onda sonora e viva sua experiência única e intransferível.

Bravo, Xará. Amo-te. Evoé! 

Clique aqui e ouça o álbum Xará, de Paquito, no Spotify


Por Antonio Aruanda

Escritor, Autor e Terapeuta


Paquito – Xará (2019) Estou a curtir o maravilhoso álbum “Xará – Short Songs” (2019) do meu querido Paquito, baiano do...

Publicado por Antonio Aruanda em Sábado, 8 de agosto de 2020

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cacau Novaes entrevista Nego Jhá: 'Vem pro cabaré'

Nêgo Jhá é uma banda do interior da Bahia, da cidade de Iguaí, situada no Centro Sul do estado, criada em janeiro de 2018, por Guilherme Santana e Gabriel Almeida, através de u ma simples brincadeira entre amigos, que resultou em um trabalho profissional.  A banda já contabiliza mais de 30 milhões de visualizações no YouTube com suas músicas, entre elas, destaca-se “Cabaré”, música de trabalho gravada por artistas famosos, que compartilharam vídeos, que viralizaram na internet, ouvindo e dançando o hit do momento em todo o Brasil. Até no BBB21 da Rede Globo já tocou a música dos garotos. Foto: Divulgação Confira abaixo a entrevista com os integrantes da Nego Jhá: Cacau Novaes - Como surgiu a ideia de criar Nego Jhá? Como tudo começou?  Nego Jhá -  Através de uma brincadeira entre mim, Guilherme, e meu amigo Gabriel, que toca teclado.  No início não tínhamos em mente de que isso se tornaria algo profissional, pensamos apenas em gravar por diversão e resenha. Ca...

Brasileiros participam do 'Encuentro Internacional de Escritorxs e Artistas' nesta quarta (31)

Nesta quarta-feira (31), das 19 às 22 horas, acontece a edição brasileira do Encuentro Internacional de Escritorxs e Artistas, promovido pelo M.I.E.L. - Movimiento Internacional de Escritorxs por la Libertad, reunido poetas, escritores(as), cantores(as) e compositore(as), que será transmitido virtualmente pelo Facebook e YouTube . Ametista Nunes,  Cacau Novaes,  Cecília Rogers, Cristina Leilane Fernandes, Gilmara Silva, Jeane Sánchez, João Vanderlei de Moraes Filho, José Inácio Vieira de Melo, Jovina Souza, Manuela Barreto, Marcos Peixe, Nhym o Gnomo do Arco Íris, Sérgio Augusto Fernandes,  Valdeck Almeida de Jesus  participam  falando de sua trajetória literária,  lendo poemas e outros textos literários. Além disso, a noite tem muita música com Alisson Menezes, Chá Rize, Dan Gomez e Joyce Kelly.   O Encuentro Internacional de Escritorxs e Artistas está acontecendo durante toda esta semana ...

Em abril, estreia Baianidade, o novo reality show da Bahia

Baianidade, o novo reality show da Bahia estreia em abril; Hariane e Cazé são os primeiros participantes da casa Diz o ditado que baiano não nasce, estreia. Com um certo dom original, grandes nomes da música e do entretenimento fazem sucesso na mídia, e inegavelmente, a Bahia é uma verdadeira fábrica de talentos. E, a Bahia sai na frente mais uma vez e traz uma grande novidade: com uma pitada de axé, em abril, estreia o Baianidade, o novo reality show da Bahia.  Pela primeira vez na história, um programa com 20 participantes, 10 mulheres e 10 homens confinados dentro de uma mansão na capital baiana (local ainda não foi divulgado) disputando o prêmio de R$10 mil reais para o grande vencedor (a). Sob o comando do apresentador Vitor Cirne, mais conhecido como o “Boninho da Bahia” garante que serão 16 dias de puro entretenimento e muitas surpresas.  “A cada dia será uma novidade diferente. A grande novidade é que o apresentador (eu que vos fala – risos) também estará no mesmo ambi...

Sérgio Mattos abre um panorama dos modelos brasileiros nos últimos 30 anos

Há 31 anos atrás comecei minha carreira.  Eu era gerente da Yes Brazil, loja mais badalada nos anos 1980. Foi lá que comecei a ter mais contato com o mundo da moda. Nesta época, os modelos que estavam na crista da onda eram Jens Peter, Sérgio Mello, entre outros.  Sérgio Mattos - Foto: Marcio Farias Em 1986, o fotógrafo norte-americano Bruce Weber esteve no Brasil para fazer o livro “Rio de Janeiro”, sobre a Cidade Maravilhosa. Com isso, o mundo abriu os olhos curiosos sobre a moda e os modelos brasileiros. Foi a partir daí que o Rio de Janeiro entrou definitivamente no roteiro fashion mundial e muita gente boa fez sucesso! Afinal, não foram só as mulheres que aconteceram, os homens brasileiros sempre venderam bem e são os queridinhos do mercado internacional! Jens Peter para Giorgio Armani Perfumes O mercado de modelos estava começando a bombar no Brasil e a Elite Model, agência internacional do icônico John Casablancas (1942 – 2013), começou a fazer um concurs...

'Rosa Tirana', de Rógério Sagui, por Marcelo Ikeda

Depois do cinema experimental de ORÁCULO, realizado entre Berlim e Floripa, a Mostra Aurora propõe uma guinada, até certo ponto surpreendente, com a exibição de ROSA TIRANA , realizado na caatinga de Poções, Sudoeste da Bahia. Surpreendente porque ROSA TIRANA é um filme de narrativa mais linear, com elementos típicos do cinema nordestino, associados a uma cultura regionalista e sertaneja, por meio da história de uma menina que tenta escapar da seca e caminha pelo sertão em busca de Nossa Senhora Imaculada. Foto: Divulgação É curioso perceber as semelhanças e diferenças entre AÇUCENA e ROSA TIRANA, dois filmes realizados no interior da Bahia por diretores estreantes, novatos no circuito de grife dos festivais brasileiros de autor. Enquanto AÇUCENA mostra domínio dos recursos mais típicos do cinema contemporâneo, em especial a indistinção entre ficção e documentário, tendo participado de laboratórios internacionais, com recursos da Ancine e agradecimentos a curadores importantes no cenár...