Pular para o conteúdo principal

“A pandemia é o resultado de nosso absoluto desrespeito ao meio ambiente e aos animais”, diz Jane Goodall

Aos 86 anos, Jane Goodall continua inspirando crianças, jovens e adultos. A determinação e a trajetória da primatóloga e antropóloga britânica são realmente fascinantes e admiráveis. Em 1960, aos 26 anos, munida de binóculos e um caderno de anotações, deixou a Inglaterra e seguiu para a Tanzânia para estudar o universo dos chimpanzés*.

Foto: Jane Goodall Institute/Shawn Sweeney

Seis décadas depois, Jane é considerada a maior especialista internacional nessa espécie e uma das mais importantes e respeitadas vozes quando o assunto é preservação ambiental.

Além do trabalho em seu Jane Goodall Institute, a ativista e Embaixadora das Nações Unidas pela Paz viaja o mundo dando palestras e fazendo alertas sobre a crise climática e a extinção em massa da fauna e da flora do planeta. Em 1991, ela também fundou o Jane Goodall Institute’s Roots & Shoots, um programa para inspirar jovens a serem agentes de mudanças em suas comunidades. Atualmente o projeto está presente em 65 países.

Esta semana Jane Goodall foi convidada a participar de um debate virtual promovido pela Compassion in World Farming, organização que faz campanha e lobby pelo bem-estar animal, assim como combater a exportação de animais vivos, certos métodos de abate e todos os sistemas de produção industrial. O tema do encontro foi “Pandemia, Vida Selvagem e a Produção Industrial de Animais.”.

Vegetariana há mais de 50 anos, Jane contou durante a live que ficou chocada recentemente ao descobrir que se cultiva mais grãos no mundo para alimentar animais do que humanos e, enquanto isso, milhões de pessoas ainda passam fome no planeta. “Além do mais, esses animais … precisam receber mais e mais antibióticos … levando ao desenvolvimento de superbactérias. O que aconteceu com este planeta é aterrorizante”.

Desde o começo da pandemia do coronavírus, Jane tem falado insistentemente sobre a ligação entre o vírus da COVID-19 e a manipulação de animais silvestres. Cientistas suspeitam, mas não há confirmação ainda, que o novo vírus pode ter sido transmitido de animais para humanos. Pesquisadores já tinham alertado, em 2007, que o consumo de animais exóticos “era uma bomba-relógio porque o morcego é um reservatório de vírus SARS-Cov”.

“Nós trouxemos isso para nós mesmos. Isso (a pandemia) é o resultado de nosso absoluto desrespeito ao meio ambiente e aos animais. Caça, matança, alimentação, tráfico de animais… O ponto que estou tentando enfatizar aqui é que todos esses bilhões de animais de fazenda e todos esses bilhões de animais traficados são indivíduos. Com personalidades capazes de sentir medo, angústia e certamente, sentir dor. E quando você começa a pensar neles como indivíduos, isso realmente fará você entender a enormidade do que fizemos. Nós infligimos milhões, milhões e milhões de animais sencientes com um sofrimento horrível e ainda o estamos infligindo agora, hoje”.

Para a ambientalista, essa crise global de saúde pode ser uma oportunidade de mudança.

“Os líderes mundiais estão ansiosos para voltar aos negócios como de costume, mas se fizermos isso, será o fim de nossa espécie no planeta Terra”, acredita. “Se não fizermos as coisas de maneira diferente, será o nosso fim. Mas temos uma janela de tempo para nos reunirmos e fazermos nossas vozes serem ouvidas. Todos os dias causamos impacto no planeta, apenas temos que escolher que tipo de impacto queremos causar”.

———————————————————————————

*Quando ainda era uma jovem estudante na universidade, Jane Goodall foi criticada por dar nomes e não “números” aos chimpanzés. Tampouco ela podia falar sobre suas personalidades. Seus professores descreveram isso como um pecado, porque “Somente humanos podem ter personalidades”.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cacau Novaes entrevista Nego Jhá: 'Vem pro cabaré'

Nêgo Jhá é uma banda do interior da Bahia, da cidade de Iguaí, situada no Centro Sul do estado, criada em janeiro de 2018, por Guilherme Santana e Gabriel Almeida, através de u ma simples brincadeira entre amigos, que resultou em um trabalho profissional.  A banda já contabiliza mais de 30 milhões de visualizações no YouTube com suas músicas, entre elas, destaca-se “Cabaré”, música de trabalho gravada por artistas famosos, que compartilharam vídeos, que viralizaram na internet, ouvindo e dançando o hit do momento em todo o Brasil. Até no BBB21 da Rede Globo já tocou a música dos garotos. Foto: Divulgação Confira abaixo a entrevista com os integrantes da Nego Jhá: Cacau Novaes - Como surgiu a ideia de criar Nego Jhá? Como tudo começou?  Nego Jhá -  Através de uma brincadeira entre mim, Guilherme, e meu amigo Gabriel, que toca teclado.  No início não tínhamos em mente de que isso se tornaria algo profissional, pensamos apenas em gravar por diversão e resenha. Ca...

Lucas de Matos participa de bate papo e sessão de autógrafos no Nosso Sarau

A edição de maio do Nosso Sarau traz o escritor Lucas de Matos, que participa de um bate papo e de uma sessão de autógrafos de seus livros “Antes que o mar silencie” e “Preto Ozado”. O evento acontece no KreativLab do Goethe-Institut Salvador no dia 28 de maio (quarta-feira), das 18h às 21h30, e a entrada é gratuita. O Nosso Sarau também é transmitido ao vivo pelo Instagram @nossosarau.ssa . A noite ainda tem recital de poesia, com Alvorecer Santos, Ametista Nunes, Cacau Novaes, Décio Torres, Emerson Bulcão, Glória Terra, João Fernando Gouveia, Larah Oliveira, Manuela Barreto e Pareta Calderash, além de um pocket show com Pedro Manuel e Ritta Cidhreira. Sobre o autor Comunicador e escritor de Salvador, Bahia, Lucas de Matos atua na área da poesia escrita e falada desde 2015. É autor de “Preto Ozado” (2022) e “Antes que o Mar Silencie” (2024), livros de poesias lançados pelo Selo Principis da Editora Ciranda Cultural, e tem circulado pelo Brasil em lançamentos e atividades de ar...

Beiju de coco da Nenzinha pode virar livro infantil

O livro "História sua e minha: beiju de coco da Nenzinha", conta para o público infantil como foi a criação do beiju de Coco no Território do Recôncavo pelas mãos de Amália Santana no ano de 1976. Paula Anias - Foto: Reprodução/Redes sociais O beiju de coco faz parte da tradição da culinária do recôncavo baiano e conhecer sua história é preservar uma memória muitas vezes esquecida. Essa iguaria foi criada por Amália Santana, uma mulher negra, residente na localidade do Ponto Certo, situada no município de Sapeaçu. Ela realizou um processo de empreendedorismo econômico no Recôncavo baiano beneficiando centenas de famílias com esse oficio. Quem é a autora deste livro? Paula Anália Anias é historiadora, pesquisadora do tema e escreveu o texto que vai compor o livro. Em entrevista ao site G1 ela disse como chegou até Dona Nenzinha: “Fizemos um álbum iconográfico, no qual o aluno devia encontrar um patrimônio histórico ainda não tombado em seu município. Aí descobrimos essa mulher...

Livros de Cacau Novaes concorrem a dois importantes prêmios literários do Brasil

Três livros do escritor José Carlos Assunção Novaes (Cacau Novaes) estão concorrendo a dois importantes prêmios literários do Brasil, o Oceanos e o Jabuti, ambos considerados de grande relevância para a literatura do país. Cacau Novaes - Foto: Divulgação Para o Prêmio Oceanos de Literatura, foram indicados os livros “Eu só queria ver o pôr do sol” e “Fonte de Beber Água”. Já ao Prêmio Jabuti, estão concorrendo “Português Afro-brasileiro: O preenchimento do sujeito pronominal na comunidade quilombola de Lagoinha”, “Eu só queria ver o pôr do sol” e “Fonte de Beber Água”. Sobre os livros : Português Afro-brasileiro : O preenchimento do sujeito pronominal na comunidade quilombola de Lagoinha – Este livro de José Carlos Assunção Novaes, decorrente de sua tese de doutoramento, apresenta um importante panorama sobre a questão a partir do estudo da comunidade quilombola da Lagoinha, localizada no estado da Bahia. Além de apresentar uma importante descrição sócio-histórica da comunidad...

Nosso Sarau recebe o escritor Goulart Gomes na edição de abril

A edição do Nosso Sarau de abril recebe Goulart Gomes, que realiza o lançamento de seu livro   Não foi tempo perdido , uma antologia pessoal comemorativa aos 40 anos de literatura do autor. O evento tem ainda bate papo com o escritor, feira de livros, recital de poesia, com participação de Alvorecer Santos, Ametista Nunes, Cacau Novaes, Dilu Machado, Emerson Bulcão, João Fernando Gouveia, Ramon Argolo, Rita Pinheiro e Rosana Paulo, além de um   pocket show   com Jorge Carrano e Chá Rize, entre outras atividades. O Nosso Sarau é um evento colaborativo, sem fins lucrativos, que tem a curadoria e produção de Cacau Novaes, coordenação artística de Alvorecer Santos e Marcos Peixe, com participação de diversos artistas e conta com o apoio cultural do Goethe-Institut Salvador. Toda a programação, que acontece presencialmente, também é transmitida ao vivo pelo Instagram  @nossosarau.ssa  na íntegra. Sobre o autor: Goulart Gomes é escritor, historiador e museólogo, criad...